A ONG Global Wellness Institute publicou em 2016 um relatório chamado “The Future of Wellness at Work” [O futuro do bem-estar no trabalho], no qual justifica a importância da atenção à qualidade de vida no ambiente profissional e indica a tendência crescente da preocupação com diminuir o estresse.
O esforço, segundo a GWI, deve ser coletivo. Envolve disposição da organização, dos gestores, mas também, na mesma medida, dos próprios indivíduos. Nenhuma iniciativa corporativa funciona sozinha se não houver uma “pré-disposição” dos sujeitos que são os principais prejudicados com a tensão.
O relatório resgata informações importantes de estudos anteriores: 76% dos adultos do mundo estão sofrendo ou lutando por seu bem-estar físico. 38% sofrem de pressão excessiva do trabalho, 24% não se sentem engajados com sua profissão. Em campo, o estudo ouviu 1179 adultos entre julho e setembro de 2015 e identificou que, globalmente, apenas 9% dos trabalhadores têm acesso a programas voltados ao bem-estar. Na América Latina, o número é ainda mais baixo: 5%.
O que fazer para diminuir o estresse?
Estandes de massagens relaxantes esporádicos, espaços de descompressão e áreas de lazer com fliperama e mesa de sinuca. Essas iniciativas “descoladas” e joviais se popularizaram nos últimos anos como maneiras de tornar o ambiente corporativo mais amigável e descontraído.
Contudo, o quanto elas são, de fato, eficientes para diminuir o estresse ocupacional e consolidar um espaço saudável para as pessoas que integram as organizações? Estas ações contribuem, sim, com a melhora da qualidade de vida, mas apenas se estiverem associadas a iniciativas mais robustas.
Então, como combater o estresse ocupacional de maneira assertiva e eficiente? Separamos algumas iniciativas de empresas que tiveram sucesso no empreendimento de proporcionar rotinas e locais que priorizam a saúde mental dos colaboradores, além da física. Confira!
Diagnóstico e ação
Em 2018, a Scania decidiu agregar à sua unidade brasileira uma equipe multifuncional dedicada ao bem-estar, que incluía médicos cardiologista e endocrinologista, além de psicólogo e psiquiatra. A meta era que a facilitação de acesso a esses profissionais incentivasse o cuidado dos colaboradores com a saúde.
A intensidade da busca por estes profissionais, no entanto, surpreendeu a empresa: a agenda do psiquiatra lotou e os colaboradores que buscavam o cardiologista tinham, na verdade, sontimasd e transtornos ligados a estresse e ansiedade.
Em reportagem do jornal Valor Econômico, a empresa contou que os dados extraídos desse primeiro contato com a equipe multidisciplinar incentivaram à criação de um programa voluntário de controle de estresse. Logo de cara, 70 pessoas participaram e, oito meses depois, 80% dos participantes disseram ter seus níveis de estresse reduzidos.
A essa iniciativa, a empresa associou uma capacitação das lideranças para identificarem sintomas de doenças psicológicas. Com as mudanças, a qualidade de vida dentro da empresa melhorou consideravelmente e o absenteísmo caiu para 2%.
Lazer bem direcionado
Incentivar a prática coletiva de esportes – com a criação de grupos de corrida de rua ou times de futebol, por exemplo – e do aprendizado de novos hobbies, como a música, por exemplo, são algumas iniciativas que apresentam bons resultados na busca por bem-estar no trabalho.
Em 2007, o Serasa atribuiu parte do seu crescimento de quase 20% no ano anterior não a um programa de metas e estratégias financeiras, mas a um conjunto de práticas de combate ao estresse.
Então com 2,3 mil funcionários, a companhia implantou apoio psicológico, orientações de saúde e nutrição, atividades musicais – com ensino de instrumentos e técnicas musicais – e centros educacionais, além de áreas para práticas religiosas e meditação.
O resultado foi imediato, com centenas de relatos positivos dos funcionários sobre melhoria da disposição para trabalhar e do engajamento com a companhia.
Uma mãozinha da tecnologia
Há quem busque na tecnologia uma forma de melhorar a qualidade de vida, com o uso de um dos milhares de apps e gadgets desenvolvidos com esta finalidade. Uma dessas iniciativas veio do Centro de Inovação SESI Fatores Psicossociais e tem como objetivo estudar os fatores psicossociais que determinam a ocorrência de transtornos como depressão, ansiedade, estresse e dependência química.
O aplicativo Gestress, desenvolvido pelo Centro, foi testado em empresas gaúchas e demonstrou resultados satisfatórios. Em uma das companhias, a fabricante de refrigerantes e cervejas Fruki, em 45 dias utilizando o aplicativo, cerca de 200 profissionais de setores administrativos relataram se sentirem melhores. O uso do app reduziu em 9% os índices de estresse na empresa.
O desafio, segundo os profissionais envolvidos na experiência, é que o uso destes recursos costuma ser pontual. Ou seja, depois de um período, os usuários tendem a abandonar as práticas caso não sejam incentivados a isso. O app não pode se tornar, também, mais uma tarefa na lista do trabalhador.
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Nenhuma destas iniciativas é uma resposta milagrosa para solucionar o problema de companhias com altos níveis de estresse, práticas de trabalho pouco saudáveis e cultura organizacional de pressão e tensão. Elas têm mais chances de promover transformações reais quando realizadas em conjunto e após um trabalho de diagnóstico da realidade de cada organização.
O mais importante é ouvir os funcionários e entender onde está a raiz da questão, identificar processos que precisam ser revistos e, aí sim, pensar em ações adicionais de combate à tensão no ambiente corporativo.