Imagine uma reunião fictícia entre alguns colaboradores de uma empresa e seus gestores, em que o objetivo é propor uma solução. Há uma situação que está gerando desconforto na maior parte dos funcionários e os gestores não estão cientes desta situação. Há um problema a ser resolvido, diretamente ligado a esta situação de desconforto.
No escuro, os gestores propõem uma solução que, entre os funcionários, individualmente, há uma crença de que será ineficiente e prejudicial ao ambiente de trabalho em diversos âmbitos. Contudo, a empresa tem uma cultura organizacional de pouco diálogo com os colaboradores, então nenhum destes se sente à vontade para se posicionar.
Há dois desfechos prováveis para este cenário fictício: 1) nenhum dos colaboradores vai se manifestar. Contrariada, a equipe colocará a solução proposta pelos gestores em prática e ela vai, de fato, falhar. 2) se houver ao menos um colaborador com perfil de liderança, assim que este se manifestar, outros endossarão o posicionamento e apresentarão seus pontos de vista de maneira complementar. Assim, a equipe poderá construir uma solução coletivamente.
O que explica esses dois caminhos prováveis é uma teoria que vem da psicologia social, chamada Espiral do Silêncio, cunhada pela pesquisadora Noelle Neumann. Essa hipótese científica sugere que, numa situação em que todo um grupo se comporta ou se expressa de uma única maneira, se constrói uma espiral em torno daquele comportamento que se transforma em uma barreira para o que é divergente.
Segundo Neumann, a maior parte das pessoas tem medo de sentir-se isolada socialmente. Assim, os indivíduos tendem a observar comportamentos de outros sujeitos para entender quais opiniões e comportamentos são recebidos com aprovação ou rejeição pelo grupo.
Nem sempre, isso é expresso verbalmente. Segundo a cientista, “as pessoas exercem “pressão de isolamento” sobre outras pessoas, por exemplo, franzindo a testa ou se virando quando alguém diz ou faz algo que é rejeitado pela opinião coletiva”.
Fatores de impacto
A hipótese da Espiral do Silêncio sugere que há uma tendência a esconder sua opinião quando se pensa que fazê-lo resultaria em se expor ao julgamento alheio ou ao que a autora chama de “pressão de isolamento”. “As pessoas que sentem o apoio público, por outro lado, tendem a expressar sua opinião em alto e bom som”, diz a autora em artigos sobre o tema.
Assim, o que cria essa espiral do silêncio é uma espécie de dança entre as expressões de opinião já consolidadas e o silenciamento dos que temem sofrer essa pressão de isolamento.
Outro aspecto que influencia a criação de espirais do silêncio, segundo Neumann, é um conjunto de aspectos emocionais e morais, combinado com o nível de consenso ou controvérsia em torno de um tema. Aspectos polêmicos e controversos, por exemplo, tendem a incentivar o silenciamento daqueles com opiniões menos populares.
Quebrando a espiral
Não é apenas na sociedade, na opinião pública e nos meios de comunicação que essa espiral se manifesta, embora a teoria tenha sido desenvolvida pensando nestes cenários mais amplos. Como no exemplo fictício do início deste texto, é um fenômeno que se aplica também em contextos mais restritos, como as pequenas empresas e grandes corporações. Mas, como evitar que isso aconteça?
Construir uma cultura de comunicação aberta em que as pessoas se sintam à vontade para manifestar opiniões e fazer sugestões fora da caixa é o único caminho possível. Em empresas com perfis de lideranças mais autocráticos e pouco democráticos isso é muito mais difícil, especialmente quando o próprio líder tem uma personalidade ou uma abordagem pouco tolerantes ao erro.
Assim como bons feedbacks podem ser resultado de muito treinamento, a comunicação aberta também precisa ser exercitada, ela não é natural para todos os gestores. Por isso, pequenos compromissos cotidianos podem contribuir, como, por exemplo, abertura de caixas de sugestões, cartões de melhoria e reuniões em grupos pequenos.
Feedbacks anônimos e avaliações às cegas também são ações que contribuem para dar o primeiro passo. Contudo, é preciso tomar cuidado para que não gerem o efeito contrário. Anonimamente, as pessoas tendem a ser mais rígidas, críticas e até mesmo ofensivas. E aqui o objetivo é justamente mostrar que há abertura para críticas construtivas e opiniões discordantes sem que se crie um clima desagradável.