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O Agro é Corporativo: a nova fase do agronegócio brasileiro em 2025

Publicado em 20/05/2025

Supersafra de 323,8 milhões de toneladas de grãos, crescimento de 10,6% em relação ao ano anterior (segundo dados do IBGE) e a abertura para se consolidar como principal fornecedor de alimentos da China, mercado super estratégico. Realmente 2025 é um ano sem precedentes para o agronegócio brasileiro.

Mas, calma, não vou falar aqui só de números! Vocês imaginam aonde quero chegar, certo?

Mais do que crescimento financeiro, esse boom se traduz em uma evolução de gestão que acaba por levar a uma maior maturidade corporativa do setor. O agro hoje precisa atuar de forma cada vez mais estruturada, competitiva e profissionalizada. Em outras palavras: o agro é corporativo.

É isso mesmo, a estratégia com um olhar para as pessoas, cultura, lideranças…

Essa nova realidade traz impactos diretos na governança, na estrutura organizacional e na maneira como empresas do setor gerenciam suas operações, em especial as cooperativas. Se antes predominava uma estrutura mais regionalizada e familiar, hoje o espelho são as grandes corporações: conselhos atuantes, dirigentes profissionais, estratégias de sucessão e de governança robustas. E isso tudo tem um impacto gigantesco sobre a Cultura Organizacional. Ou seja, muda não só o modelo de gestão e de governança, mas a cultura se transforma de forma evolutiva.

Essa transição é visível no movimento de contratação de executivos de mercado, muitos deles vindos de grandes empresas, que agora atuam em estruturas que combinam a força cooperativa com práticas modernas de gestão. Aliás, desde que houve um entendimento por parte das cooperativas de que era possível trazer executivos de mercado para posições estratégicas, de gestão, já que esses profissionais deverão seguir o direcionamento do conselho, que esse sim é composto por cooperados, houve uma perceptível evolução na gestão.

A profissionalização do RH no agronegócio

Do ponto de vista de Recursos Humanos, pautas que eram praticamente inexistentes no agro até poucos anos (como pipeline de sucessão, desenvolvimento de lideranças, avaliação de desempenho, programas de assessment, comunicação interna estruturada, etc) agora fazem parte do dia a dia de muitas cooperativas e agroempresas. Ou seja: passamos de um RH mais operacional para um RH estratégico, que fala sobre negócio.

Mas é importante destacar: essa evolução não pode ser imposta “goela abaixo”. E também, não será da noite para o dia, é um processo. Lembre-se, estamos falando de cultura: ganha espaço quem consegue trazer essas práticas com sensibilidade, entendendo e respeitando a cultura da organização, o ritmo e o jeito próprio do agro de se comunicar e de fazer gestão.

É preciso compreender que o agro valoriza o simples, e isso é muito diferente de ser simplório, que fique bem claro. Em um ambiente em que a conexão com a terra e a prática cotidiana são valores fundamentais, abordagens excessivamente “corporativistas”, cheias de anglicismos (agro não faz meeting, faz reunião; gerencia orçamento, não budget, por exemplo) não agradam. O que funciona é a tradução prática da estratégia: ser técnico, mas ser claro; ser profissional, mas manter a humildade de aprender com quem conhece seu negócio.

Talentos no agro: seleção com encaixe cultural

No processo de atração e seleção de talentos, esse olhar é determinante. Mais do que buscar grandes currículos, é preciso encontrar profissionais que terão um encaixe com  o setor, pessoas que consigam modular a interlocução, transitando entre a simplicidade do dia a dia no campo e a sofisticação exigida em negociações internacionais ou em debates de conselho, por exemplo.

Dentro das cooperativas, a particularidade é ainda maior. O executivo precisa entender que seu stakeholder principal, o cooperado, ocupa múltiplos papéis, e que a dinâmica de decisão não segue exatamente o fluxo das grandes empresas. Isso exige uma escuta ativa, empatia e, principalmente, um modelo de gestão baseado em construção conjunta, e não em imposição de decisões.

Como o agro impacta o mercado corporativo como um todo

Essa onda de profissionalização, no entanto, não se restringe ao universo do agro. Seu impacto já pode ser sentido no mercado como um todo, já que desloca para o mercado executivos de outros setores. Cada vez mais, vemos profissionais migrando para o agronegócio, atraídos pela pujança e pelas oportunidades de desenvolvimento de carreira. Em paralelo, isso também eleva o nível de exigência em termos de gestão e governança, influenciando positivamente toda a cadeia de negócios que orbita ao seu redor.

O agro brasileiro de hoje é potência, é inovação e, mais do que nunca, é corporativo. Entender esse movimento é fundamental para quem quer crescer junto com o setor.

 

Escrito por Ruth Bandeira – CEO da Proposito


Fontes:

  • IBGE, “Estimativa prevê safra de 2025 10% maior que a de 2024”, março de 2025.
  • Forbes Agro, “Supersafra de grãos pode levar Brasil a recorde de déficit de armazenagem”, fevereiro de 2025.
  • CNN Brasil, “Tarifas de Trump: impactos para o agronegócio brasileiro”, abril de 2025.
  • Reuters, “Trump’s trade war favors Brazil’s agribusiness”, março de 2025.
    Imagem: Pexels