Se você for mulher, a maternidade pode ser uma resposta comum. Mas, muitas vezes, o distanciamento da vida corporativa se dá, não por opção, mas por falta de opção. A mãe trabalhadora se vê obrigada a deixar a vida profissional pela falta de políticas públicas adequadas, da compreensão e empatia dos empregadores, ou pelo viés cultural que rotula a mãe com crianças pequenas como aquela que só tem olhos para a prole e não dará a devida atenção ao trabalho.
Segundo um estudo da USP, 11 milhões de mulheres ficaram fora do mercado em 2022 para cuidar dos filhos, mesmo desejando uma colocação profissional. Outra pesquisa, publicada em 2024 pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), indica que mães têm 20% menos chances de trabalharem após o nascimento do filho, em comparação com homens na mesma situação.
Se é uma opção da mulher deixar sua carreira em stand-by para se dedicar ao filho, ótimo! Essa decisão deve ser respeitada e apoiada. Mas observamos um movimento contrário, em que o ambiente à volta daquela mãe a força a deixar seu posto. A mulher em idade fértil carrega o estigma de poder engravidar a qualquer hora! É um carimbo nas costas que carregamos, pois em nosso país o afastamento após o nascimento do bebê é praticamente só da mãe. O nome já diz tudo: Licença Maternidade.
Além da discriminação, outras questões sociais têm influência, como a falta de creches para atender a todas as crianças. Quem acompanhou os debates políticos nas principais capitais brasileiras deve ter percebido que esta foi uma bandeira levantada por políticos de todos os espectros para angariar votos.
Depois de deixar suas funções laborais, para voltar ao mercado após um período de inatividade, há barreiras substanciais. Esse hiato faz com que as mulheres tenham que dar passos atrás em suas carreiras e o mercado, por sua vez, não as recebe como deveria, relegando a elas funções menores e salários reduzidos.
Há países com experiências bem sucedidas, como a Noruega. Conhecido por políticas de licença parental flexíveis, o país contou com uma reforma realizada em 2018. São ao menos 49 semanas de licença remunerada (3 semanas para a gestante antes da data prevista para o parto, 15 semanas para cada cônjuge, e outras 16 semanas divididas conforme a escolha da família). Regras permitem a ampliação da licença, com remuneração parcial ou não remunerada.
No Brasil, iniciativas de Diversidade & Inclusão têm crescido, especialmente em grandes empresas. Há um esforço de propiciar às mães um aumento da licença, mas que de forma isolada, sem uma mudança cultural para que os pais assumam metade do trabalho e responsabilidade rotineira com os filhos, não vejo como solução. Afinal, é dever de ambos o cuidado com os filhos, e ambos devem ser impactados por essas ações.
Por fim, deixo uma pergunta para as mães da minha rede: como esse período pós-maternidade impactou a sua carreira profissional?
Escrito por Ruth Bandeira