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O que nos trouxe até aqui pode não ser o que vai nos levar adiante

Publicado em 22/05/2024

O título deste artigo é uma adaptação da frase de Marshall Goldsmith “what got you here won’t get you there”, e minha inspiração para este texto.

Quase que diariamente converso com Acionistas de empresas, Conselheiros, CEOs, Heads de Capital Humano e inúmeros profissionais. Pessoas diferentes, realidades diferentes, problemas diferentes. Mas com uma crença comum como armadilha: o que nos trouxe até aqui vai nos sustentar no futuro.

Podemos chamar de mundo VUCA ou mundo BANI. Ou chamar como os tais tempos pós normais.

Tempos em que vivemos mudanças e polaridades. Trabalho híbrido x presencial, globalização x nacionalização, direita x esquerda, empregos formais x gig economy, compra de sistemas x “everything as a service”, Inteligência Artificial, mudanças climáticas, novas guerras, resultados trimestrais x ESG, lucro para o acionista x interconexão com diferentes stakeholders, conselhos e times de lideranças diversos, chefes hierárquicos x lideres vulneráveis, trabalho x vida pessoal, etarismo x valorização da experiência, tokenismo x diversidade pelo valor, comando/controle x colaboração, empresas contratantes x profissionais que escolhem pelo cenário pleno emprego, burnout x consciência sobre limites humanos, entre tantos outros exemplos.

Nas minhas interações com as pessoas percebo os desafios atuais das decisões, os momentos de pressão adicional pela mudança. Muitas vezes pautados pela tríade “fuga, luta ou paralisia”.

O acionista da empresa familiar que está dividido entre o futuro do filho e o do negócio por conta dos interesses e grau de preparo da próxima geração.

O herdeiro da empresa familiar que cogita trabalhar na empresa somente para satisfazer a expectativa do pai ou mãe.

O CEO que traz um novo diretor em busca de resultados mas que teme pelos impactos na cultura e nos colaboradores com mais tempo de casa.

A Diretora que busca um novo gerente sênior mas que teme enfrentar críticas se não encontrar alguém aderente, que entregue resultados mas que também seja disruptivo.

O VP que sabe sobre os enormes desafios atuais do seu diretor mas que exige o perfil padrão da multinacional.

O Conselho que busca um novo CEO com profunda experiência no segmento somada a um perfil inovador e voltado para novos negócios.

O executivo que trabalha há mais de 20 anos na empresa multinacional e que agora, aos 40 e poucos, quer um novo trabalho e ambiente, mas “sem correr riscos”.

O executivo que busca um novo ciclo mas não atualiza seu LinkedIn há anos e tampouco participa de eventos para networking.

A executiva que ao entrevistar novos candidatos busca perfis atualizados mas na sua trajetória profissional fez uma pós ou curso há mais de 15 anos.

O gestor branco, heterossexual e com mais de 50 anos que não busca letramento e convivência com a diversidade, mas que diz “até considerar” candidatas mulheres depois da menopausa.

O que nos trouxe até aqui pode não nos levar adiante.

Precisamos de mais trocas e intercâmbio de experiências. Mais aprendizado sobre casos de sucesso e casos de insucesso.

Precisamos de mais letramento sobre temas relevantes ligados à liderança, cultura, trabalho colaborativo e diversidade.

Conexões mais próximas entre Conselhos e Gestão.

Discussões mais abertas entre membros de Famílias Empresárias com a ajuda de agentes externos e independentes.

Participações mais efetivas das áreas de RH junto aos Comitês Executivos.

Mais autoconhecimento e suporte para lideranças e carreiras feitos por mentores, coaches e consultores bem preparados (e intencionados).

A mudança é certa e os desafios, crescentes.

Nos tempos pós normais nossa única certeza é a da humanidade. Cada vez mais presente e determinante. Não uma humanidade isolada. Mas conjunta, colaborativa e gregária.

Uma realidade onde não existem o Super-Homem ou a Mulher-Maravilha.

Mas sim as Ligas da Justiça.

Escrito por Andre Caldeira