As três letras mais discutidas no abecedário da educação, da infantil à superior, desde que iniciou o período de isolamento social por conta da pandemia do coronavírus foram, sem dúvida, EAD.
Embora esteja em evidência por conta do momento que impede aulas presenciais, não é de hoje que o ensino à distância é um tópico discutido por quem pensa a educação e a prática didática. Afinal de contas, o EAD é solução em tempos de isolamento social ou vilã da educação?
Sem entrar no mérito da educação básica, a realidade mostra que as universidades brasileiras não estão preparadas para abraçar essa modalidade. Até metade do mês de maio, somente 6 das 69 universidades federais haviam adotado algum método de ensino remoto desde que a pandemia começou.
Nas particulares, a realidade também não chega perto do ideal, embora muitas delas já ofertam cursos à distância ou os semipresenciais, especialmente desde que uma medida adotada em 2016 permitiu que 20% de qualquer curso universitário pudesse ser realizado remotamente.
Todos esses aspectos são testemunhas de transformações que, em menor ou maior grau, vão aos poucos mostrando de que forma o ensino e a educação têm sido pensados. Educar já não é mais sinônimo de prostrar-se à frente de dezenas de alunos entediados há muito tempo, mas a questão é que a educação muitas vezes ainda patina para entrar completamente no mundo digital.
Entre os aspectos que marcam esse novo momento e que devem ser revistos com urgência estão uma educação menos autoritária e mais democrática, com uma espécie de gestão participativa das salas de aula, onde os alunos também tenham voz e possam contribuir com a qualidade das aulas. Com cada vez mais trabalho em equipe e responsabilização coletiva pela aprendizagem, enfocando o aluno como “cliente” do processo de ensino, e baseado em novas formas de avaliação que permitam de fato diagnosticar o avanço e o crescimento do aluno.
Hoje aluno, amanhã profissional
Um universitário que acorda enviando avisos para a Alexa, dirige usando comandos de voz da Siri, enquanto escuta podcasts via Spotify e faz pagamentos via PicPay, que lê os textos das aulas no Kindle e compartilha tudo em seus perfis no Twitter, Instagram e no Tik Tok não consegue mais ficar sentado assistindo passivamente um professor falar no mesmo tom de voz por duas ou quatro horas.
A tecnologia e a conectividade transformaram o mundo e o comportamento humano, além de sua relação com o aprendizado e que, mais tarde, vai se refletir no profissional em que se transformou. O que se chama de novos paradigmas da educação diz respeito a muito mais do que o EAD, mas dialoga com as maneiras de engajar o aluno em sala de aula, instrumentalizando as novas tecnologias para despertar a curiosidade, o interesse, a criatividade e o desejo de aprender.
Não é necessário atuar diretamente com ensino para que a sua empresa seja impactada por esta discussão. Estes novos paradigmas da educação e os métodos de ensino adotados pelas instituições impactam também as organizações e o mercado de trabalho porque ditam a formação dos futuros profissionais e o quão preparados estarão para encarar os desafios que também pertencem a essa nova ordem.
Os chamados nativos digitais, os jovens que já cresceram no mundo onde reina a internet, precisam ter uma educação que os ajude a melhor dominar e manipular os conhecimentos com os os quais foram sendo familiarizados ao longo da vida e usá-los para contribuir com a esfera corporativa, posteriormente.
Aulas remotas x educação à distância
Desde que encontros presenciais foram suspensos para evitar aglomerações, viu-se planos de ensino desenvolvidos para salas de aula no formato convencional – aquelas com professor em frente ao quadro, alunos nas carteiras – serem transplantados inteiramente para as salas de vídeo, virtuais, muitas vezes sem nenhuma preocupação em adaptar as práticas de ensino para este “novo normal”.
Qualquer pesquisador da área de educação perguntado a respeito dirá que o simples fato de ser realizada remotamente, mediada por uma tecnologia digital, não transforma uma aula em prática de ensino a distância. Existe todo um conjunto de teorias, princípios e práticas em torno desta modalidade de educação que fazem dela uma forma eficiente, respeitada e reconhecida de troca e produção de conhecimentos, diferente das aulas remotas que não foram planejadas para tanto.
Por isso, a sugestão para quem busca por um curso ou qualquer tipo de aula à distância é sempre levar em consideração as práticas didáticas, as ferramentas de ensino e o conhecimento teórico que fundamenta o curso escolhido.